O país pode perder o controle sobre a população de javalis selvagens em uma década, afirma o presidente da Associação Brasileira de Caçadores, Rafael Salerno, que é engenheiro agrônomo e pesquisador. O alerta vem após o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) suspender todas as licenças para a caça da espécie.
Salerno cita que alguns Estados americanos já admitiram derrota no manejo dessas pragas. No começo deste ano, viralizaram nas redes sociais vídeos de agricultores do Texas caçando javalis usando helicópteros.
"O Texas é menor que Mato Grosso, tem uma população dez vezes maior e terras mais áridas, inaptas a sustentar esses animais. Ainda assim, perderam o controle. Aqui é bem mais difícil", diz.
De acordo com Rafael Salerno, o Brasil tem um histórico de suspender e liberar a caça de tempos em tempos. O problema é que, nos períodos de embargo, a população de javalis se multiplica rapidamente. O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) estima que um javali ou um javaporco pode ter de seis a dez filhotes por gestação.
"A armadilha e a busca por ceva [em que os animais são atraídos com comida até um lugar de abate] são importantes, mas não podemos abrir mão de nenhuma forma de controle", afirma.
Salerno lembra que o abate de ratos — considerados pragas em áreas urbanas — não têm regras e acontece muitas vezes de maneira brutal. "Usa-se desde veneno a armadilhas que, para mim, são questionáveis, como a cola em que o animal fica preso e morre por falta de água e comida", afirma.
No caso dos javalis, o uso das armas de fogo é justamente para que a morte do animal seja tão rápida e indolor quanto possível.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) estima que o javali esteja presente em pelo menos 2 mil dos 5,6 mil municípios brasileiros. Esses animais são conhecidos por destruir plantações, pisoteando ou escavando a terra em busca de alimento; prejudicar o acesso da fauna nativa aos recursos naturais; e destruir nascentes de rios.
Além disso, representam um risco físico às pessoas que vivem na zona rural e também podem transmitir doenças. Na Europa, muitos casos de peste suína africana ocorreram em javalis selvagens, que podem vir a ter contato com plantéis de porcos comerciais.
"A maioria dos Estados brasileiros hoje dependem de caçadores para fazer coleta e entrega de material biológico de javalis para garantir o status sanitário", afirma Rafael Salerno.
O javali é uma espécie de porco europeu. Indícios apontam que o animal entrou no Brasil pela fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, no século passado. Nos anos 1990, europeus também trouxeram a espécie para produção de carne em São Paulo e Rio Grande do Sul, mas alguns fugiram dos criadores e se dispersaram pelo país.
"Houve uma importação legalizada para produção de carne de luxo. Era uma época em que o porco caipira estava em decadência, então pequenos produtores viram uma oportunidade e pegaram filhos de javali para criar em instalações de porcos", explica o presidente da Associação Brasileira de Caçadores.
Do contato e cruzamento do javali com o porco doméstico, que compartilham um ancestral comum, surgiu o javaporco — um descendente fértil. Eles são ferozes, têm caninos grandes e podem chegar a 200 quilos.
Sempre em bandos, se multiplicam rapidamente em matas próximas às plantações, especialmente, as de milho. "É um problema maior ainda, porque são mais rústicos e reprodutivos", diz Salerno.
A União Internacional para Conservação da Natureza (UICN) considera esses mamíferos como uma das 100 piores pragas agrícolas e ambientais do mundo.
Fonte: Rede Web TV