A dragagem do Rio Itajaí-Açu, em Rio do Sul, que está em ação desde sábado (11), tem sido considerada pelo Governo do Estado uma forma de "mitigar e prevenir as cheias" no Vale do Itajaí. A região é, historicamente, uma das mais atingidas por enchentes em SC e foi palco de uma das maiores tragédias climáticas do país em 2008.
A medida ajuda a reduzir a velocidade das cheias, mas, sozinha, não é suficiente para evitar que a região sofra com inundações, avalia o professor e oceanógrafo Jurandir Pereira Filho, que coordena o Programa de Assessoria e Monitoramento Ambiental na Área de Influência do Porto de Itajaí (Mapi).
A draga realiza o desassoreamento do rio. Ou seja, retira o excesso de sedimentos do leito e das margens e, com isso, acelera o escoamento da água. "É uma ação paliativa. Ela, por si só, não resolve o problema. As medidas mais efetivas são de longo prazo e têm que ser tomadas ao longo da bacia hidrográfica da região", ressalta o especialista.
Filho explica que, além do escoamento por meio da draga, é necessário adotar medidas para aumentar a infiltração da água no solo. Com a urbanização, a superfície fica impermeabilizada, o que diminui a entrada da água no solo. Essa água rapidamente atinge os rios, elevando os níveis, o que pode ocasionar enchentes. A preservação das matas ciliares também colaboram com a proteção dos rios, pois dificultam a entrada de sedimentos e diminuem a velocidade das cheias.
O professor também alerta para necesssidade de adotar medidas que previnam as enchentes a longo prazo, além da desocupação das regiões de várzea que, recorrentemente, são inundadas.
A preocupação com o impacto das chuvas intensas no Vale do Itajaí aumentou após a tragédia climática no Rio Grande do Sul. No último dia 11, o secretário de Estado da Proteção e Defesa Civil, Fabiano de Souza, disse que a dragagem é a "primeira ação desse tipo" no estado durante a cerimônia para assinatura da ordem de serviço.
"Desde a década de 1980, a JICA [Japanese Internacional Cooperation Agency] promove estudos para mitigação de inundações na região e nesse trecho urbano de desassoreamento, de melhoramento fluvial. É a primeira ação desse tipo, prevista nos estudos da JICA e que começa a ter um impacto direto e significativo na mitigação de inundação", afirmou.
O estudo, realizado em 2011, sugere medidas que podem ser adotadas para minimizar enchentes em 5, 10 e 50 anos na bacia do Itajaí. Entre essas ações, estão construção de barragens e pequenos lagos de contenção dentro da bacia, instalação de comportas para controlar o nível do rio, fortalecimento do sistema de previsão e alerta para enchentes.
O investimento do governo estadual para o desassoreamento dos rios e limpeza das margens será de R$ 16,2 milhões. O serviço abrange um trecho de 8,2 quilômetros, divididos entre os rios Itajaí do Sul, Itajaí do Oeste e, após a junção deles, o próprio rio Itajaí-Açu. "Essa iniciativa representa um marco essencial e um passo indispensável na proteção dos catarinenses por ser uma obra realizada com antecipação, para a prevenção aos estragos", disse o governo em nota enviada à Gazeta do Povo.
A execução do serviço se dá em caráter emergencial devido à declaração de calamidade pública do município Rio do Sul em novembro de 2023. Com isso, o prazo para a execução é de 180 dias, contados a partir da emissão da ordem de serviço.
Rio do Sul sofreu com sete enchentes só no ano passado. A localidade é banhada por dois rios, o rio Itajaí do Sul e o rio Itajaí do Oeste que, juntos, formam o rio Itajaí-Açu. De tempos em tempos, as fortes chuvas causam inúmeros prejuízos na região, incluindo mortes, inundações de casas e estabelecimentos comerciais, alagamentos e danos à agricultura e à pecuária.
De acordo com a Defesa Civil de Rio do Sul, a primeira ocorrência registrada no município devido às enchentes foi em outubro de 1911, quando o rio Itajaí-Açu atingiu a marca de 12,20 metros. De lá pra cá, foram registradas mais 72 ocorrências de enchentes na região.
A região de Rio do Sul também é uma área suscetível à movimentação do solo devido às altas declividades e geologia do local. Conforme o Mapeamento de Áreas de Risco Geológico feito em parceria com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), o município possui 19 áreas de risco mapeadas, sendo cinco áreas classificadas de risco muito alto e 14 com risco alto para rastejo, deslizamento, corrida de massa, erosão e queda.
Fonte: Rede Web TV