Vista no Brasil nos últimos dias, a imagem do sol avermelhado parece bonita num primeiro momento. No entanto, a alteração na cor é sinônimo de preocupação. A causa do fenômeno é a combinação da camada de poluição das queimadas com a inclinação dos raios solares, explica Guilherme Borges, meteorologista da Climatempo.
"O que acontece é que estamos com muita fumaça espalhada por amplas áreas, e ela é bem ruim tanto para a saúde como para a visibilidade. Então, a presença da fumaça pelo céu o deixa mais cinza e exerce influência também na tonalidade do sol", diz.
O especialista ouvido pelo Globo Rural completa que é comum observar essa mudança na cor do sol, principalmente, nas primeiras horas da manhã ou no fim da tarde, períodos em que a inclinação dos raios e a interação com a camada de poluição são maiores.
"Isso favorece para que o sol fique vermelho visualmente a olho nu. Com a grande quantidade de fumaça espalhada, tivemos registros de sol vermelho nos três Estados do Sul, no Sudeste e em todo o Centro-Oeste".
É comum que a maioria das respostas seja amarelo, mas a cor natural da estrela localizada no centro do sistema solar é branca. Conforme Borges, quando conseguimos observar o que se dispersa no comprimento de onda que o olho visualiza, enxergamos ele amarelo, mas, em razão da poluição em grande quantidade atualmente, é normal observá-lo vermelho ou num tom alaranjado.
É cedo para saber, responde o meteorologista. A princípio, o problema é apenas visual e necessita de um estudo amplo e que tenha impacto na inclinação do sol.
"Estudo radiação no doutorado e sei que essas partículas em suspensão na atmosfera ajudam a atenuar a chegada de radiação até a superfície e, consequentemente, contribuem para o efeito estufa. É uma coisa que a gente sabe que causa, mas o quanto causa vamos saber após um estudo efetivo".
Apesar de o sol ficar vermelho pela combinação da inclinação dos raios com a camada de poluição, a onda de calor em ação e considerada a mais intensa e duradoura de 2024 também influencia no fenômeno por bloquear as chuvas. A explicação está no clima.
"O inverno já é caracterizado por ser uma estação de queimadas, mas a gente vem com esses períodos de temperatura acima da média e pouca chuva há meses. E o outono, que deveria ser a transição da chuva para a estiagem, foi completamente seco. Então, quando chegamos no momento frio, ele se apresentou como extremamente seco em um ambiente muito inflamado e favorecido pela pouca chuva, umidade relativa do ar baixa e calor, gatilho para os incêndios e, por consequência, a poluição", detalha.
Os incêndios têm atingido os principais biomas do país. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), somente em agosto, 68 mil focos foram registrados, o maior número desde 2010.
Outro dado expressivo do mês foi divulgado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM): de 4,4 milhões de pessoas afetadas pelos incêndios neste ano, 90% sofreram algum efeito em agosto.
Em São Paulo, por exemplo, os prejuízos ao agronegócio devem ultrapassar os R$ 2 bilhões, conforme a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, principalmente no setor sucroenergético pelos incêndios em lavouras de cana-de-açúcar. Há também registros em áreas de grãos e na pecuária.
Fonte: Rádio Educadora