Brasil fez história ao conquistar o primeiro Oscar com Ainda Estou Aqui, vencedor na categoria Melhor Filme Internacional. O clima de Copa do Mundo só não foi maior, porque Fernanda Torres não venceu na categoria Melhor Atriz, que ficou com Mike Madison, por Anora, o maior vencedor da noite, com 5 Oscars, incluindo Melhor Filme. Veja a lista completa dos vencedores do Oscar com a TVT News.
Ainda Estou Aqui ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional na 97a edição do Oscar.
No discurso de agradecimento, o diretor Walter Salles dedicou a conquista à Eunice Paiva e também às duas Fernandas que a interpretaram: Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.
O filme brasileiro Ainda Estou Aqui concorria em 3 categorias: melhor filme internacional (que já é do Brasil), melhor atriz, com Fernanda Torres, e melhor filme. Anora foi o grande vencedor, com 5 prêmios.
No discurso pela vitória de melhor atriz coadjuvante, Joe Saldaña, de ascendência dominicana, defende os migrantes. Na categoria melhor documentário, o Oscar premiou produção que fala sobre a expulsão forçada de palestinos da Cisjordânia ocupada por Israel.
Anora venceu nas categorias roteiro original, edição (montagem), atriz, diretor e filme. Brutalista ficou com 3 esatuetas: Ator, fotografia e trilha original.
Confira a lista lista completa dos vencedores da 97a edição do Oscar.
Veja quem ganhou os Oscars 2025
Ator Coadjuvante
Kieran Culkin é o primeiro vencedor da noite. Melhor Ator Coadjuvante por "A Verdadeira Dor"
Animação
Flow vence como a melhor animação.
Curta de animação
In the Shadow of the Cypress é o melhor curta de animação do 97° Oscar.
Figurino
Wicked leva o 1o prêmio da noite. Paul Tazewell, por melhor figurino. O primeiro homem negro a ganhar este prêmio. O discurso foi muito aplaudido.
Roteiro Original
Anora ganha seu 1o prêmio. Sean Baker vence Oscar de melhor roteiro original por Anora.
Roteiro Adaptado
Conclave vence melhor roteiro adaptado. Peter Straughan traz o 1o Oscar para Conclave. O roteiro é adaptação do livro de mesmo nome de Robert Harris.
Emília Perez estava na lista, mas não levou.
Críticos de cinema diziam que Ainda Estou Aqui poderia ser indicado nesta categoria.
Maquiagem e cabelo (penteado)
Substância ganha o 1o Oscar. A equipe vencedora de maquiagem e cabelo: Pierre-Olivier Persin, Stéphanie Guillon and Marilyne Scarselli, por A Substância.
Edição (Montagem)
Anora ganha mais um. Sean Baker vence mais um Oscar pela montagem de Anora. Ele fez uma piadinha com o fato dele ser roteirista e diretor do filme.
Atriz Coadjuvante
Zoe Saldaña traz o 1o Oscar para Emília Pérez. A atriz vence o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante e faz discurso em favor do migrantes. Ela tem ascendência dominicana. Estocada em Trump.
Direção de arte (Design de Produção)
Wicked vence o 2o Oscar. Nathan Crowley e Lee Sandales trazem o Oscar de Direção de Arte para Wicked.
Canção Original
Emilia Pérez vence o segundo Oscar da noite. El Mal, de Emilia Pérez (composição por Clément Ducol, Camille e Jacques Audiard interpretada por Selena Gomez e Zoe Saldaña).
O prêmio foi anunciado pelo líder do Rolling Stones, Mick Jagger.
Curta documentário (documentário em curta metragem)
Única Mulher na Orquestra (The Only Girl in the Orchestra) ganha o Oscar de Melhor Documentário em Curta Metragem.
Documentário
No Other Land, que fala sobre conflitos na Cisjordânia e Palestina, vence o Oscar de Melhor Documentário. No discurso, o diretor falou sobre o genocídio em Gaza.
Som
Duna: Parte 2 vence o Oscar de Melhor Som. Tod A. Maitland, Donald Sylvester, Ted Caplan, Paul Massey e David Giammarco vencem Melhor Som por Duna: Parte Dois.
Efeitos Visuais
Duna: Parte 2 vence Oscar de Efeitos Visuais. Duna pode ser considerado bicampeão, pois Duna, parte1, já havia vencido em 2023.
Curta Metragem (Curta Live Action)
I"m Not a Robot (Eu não sou um robô) vence o prêmio de Melhor Curta Metragem.
Fotografia
Brutalista vence o 1o Oscar. Lol Crawley vence o Oscar de Melhor Fotografia por O Brutalista.
Trilha Original
Vencedor de melhor trilha sonora: Daniel Blumberg, por O Brutalista, que conquista o 2o da noite.
Filme Internacional: a categoria de Ainda Estou Aqui
O Brasil ganhou!
Os brasileiros estão em clima de Copa do Mundo. Ainda Estou Aqui conquista o primeiro Oscar da história do Brasil.
Ator
O Brutalista vence o terceiro Oscar da noite: melhor ator, com Adrien Brody, por O Brutalista
Direção
Anora ganha mais um. Melhor diretor: Sean Baker, por Anora. É o 3o prêmio do longa.
Atriz
Mike Madison vence melhor atriz pela interpretação em Anora. No discurso ela reconhece o trabalho das profissionais do sexo. É o quarto Oscar, o maior vencedor da noite.
Filme
E Anora se consagra como melhor filme. Com 5 estatuetas, o filme conquistou as principais categorias incluindo melhor filme.
Raquel Novaes Colaborou na apuração.
Abertura do Oscar
O apresentador da cerimônia da entrega do Oscar, Conan O"Brien abriu a transmissão com as conhecidas piadinhas sobre filmes e indicados. No entanto, a piada feita com Ainda Estou Aqui foi de péssimo gosto.
O"Brien disse que a esposa dele gostaria de receber a mesma notícia de desparecimento do marido. Totalmente ao contrário da história de Ainda Estou Aqui. A equipe do filme brasileiro teve de fazer um sorriso amarelo.
Estrelas chegam ao tapete vermelho
O elenco de Ainda Estou Aqui e o diretor Walter Salles acabaram de passar pelo tapete vermelho.
Imagem: Reprodução/Academy/Oscars
- Em entrevista no tapete vermelho, Selton Mello diz que Ainda Estou Aqui é um filme que será eterno
- O diretor Walter Salles disse, em entrevista no tapete vermelho, que "se tiver que escolher um prêmio só, eu gostaria que fosse para Nanda (?). Porque a Nanda, na verdade, levou o filme, ela é o filme, é a alma do filme. Então, se puder ser para ela, vou ficar tão feliz".
- Também na entrevista no tapete vermelho, Fernanda Torres, segurando boneco do Pikachu, fala que o filme furou a bolha. "Depois do tempo de ódio que vivemos, esse filme trouxe de volta a família". Ela ainda disse que está muito feliz com toda a torcida brasileira. "Virar boneco de Olinda é a maior consagração", brincou a atriz.
- No perfil oficial da Academia, já tem storie de Fernanda Torres
Ainda Estou Aqui tem quantas indicações ao Oscar 2025?
Pela primeira vez na história, uma obra brasileira concorre na categoria principal, a de Melhor Filme. Ainda Estou Aqui também foi indicado para Melhor Filme Internacional.
Já Fernanda Torres foi nomeada à categoria de melhor atriz ao lado de Cynthia Erivo (Wicked), Karla Sofía Gascón (Emilia Pérez), Mikey Madison (Anora) e Demi Moore (A Substância). Bom lembrar que Fernanda tem uma vantagem, já que ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama.
Como funciona a escolha dos filmes indicados ao Oscar?
Tudo começa com a divulgação de uma lista preliminar (shortlist) que seleciona os filmes pré-aprovados para as indicações. Para isso, são considerados critérios como data de estreia e exibição em cinemas renomados.
Na etapa seguinte, os membros da Academia votam nas categorias correspondentes às suas áreas de atuação. Atualmente, cerca de 9.500 profissionais participam da votação – diretores votam em diretores, atores em atores e assim por diante. No entanto, todos os membros podem votar para Melhor Filme. O Brasil conta com 52 eleitores, incluindo nomes como Fernanda Montenegro, Walter Salles, Sonia Braga, Wagner Moura, Kleber Mendonça Filho e Selton Mello.
Para categorias específicas, como Melhor Filme Internacional e Melhor Animação, todos os membros podem votar, desde que tenham assistido às produções da shortlist. Após essa fase, é definida a lista final de indicados.
A votação final, que começa hoje, permite que os membros ativos da Academia escolham os vencedores em todas as 23 categorias. O sistema é simples: vence quem obtiver o maior número de votos, exceto na categoria de Melhor Filme. Neste caso, os membros classificam os 10 indicados em ordem de preferência. O filme que aparecer em primeiro lugar em pelo menos 50% das listas vence. Caso nenhum atinja essa marca, a estatueta vai para o mais bem posicionado na média geral. Os votos são enviados on-line, e a apuração é realizada pela PricewaterhouseCoopers, responsável também pelos famosos envelopes da premiação.
Ainda Estou Aqui: filme sobre memória e resistência
Ainda Estou Aqui é um filme sobre memória, resistência e luta. Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, o longa conta a história de Eunice Paiva, viúva do ex-deputado e engenheiro civil Rubens Paiva. Antes mesmo da estreia no Brasil, Ainda Estou aqui tem recebido atenção por onde passa, como os 10 minutos de aplausos no Festival Veneza 2024 em que levou a premiação de melhor roteiro.
- Veja a entrevista de Marcelo Rubens Paiva, autor livro Ainda Estou Aqui, ao Programa Juca Kfouri Entrevista
Dirigido por Walter Salles (de Central do Brasil e Diários de Motocicleta), Ainda Estou Aqui tem no elenco atores de peso como Fernanda Torres, que interpreta Eunice Paiva, Selton Mello (como Rubens Paiva), além das participações de Marjorie Estiano e da fantástica Fernanda Montenegro, que faz Eunice mais velha e já acometida de Alzheimer.
A participação de Fernanda Montenegro, mesmo curta, dá a Ainda Estou Aqui maior carga sobre o drama da memória. Como se o filme já não emocionasse desde as primeiras cenas.
Com reconstituição impecável do Rio de Janeiro dos anos 70, Ainda Estou Aqui começa com o cotidiano da família de Rubens Paiva em meio às repercussões do sequestro do embaixador suíço pelos grupos de resistência armada à Ditadura Militar.
A trama se desenvolve em três partes: a maior, que mostra a família de Paiva no Rio de Janeiro nos anos 1970; a segunda, bem menor, conta trajetória de Eunice como defensora dos Direitos Humanos e a terceira, o encerramento é a que está Fernanda Montenegro e coloca o público diante do debate da memória.
Na primeira parte, o filme mostra como a prisão de Rubens Paiva foi arbitrária. As sequências mostram como a família tentava manter a normalidade, como os dramas de adolescentes, o jogo de totó (pebolim) entre pai e filho, as idas à praia, as festas com amigos, a troca de dentinhos das crianças, a adoção de um cachorro.
Foto: Reprodução Sony Pictures Brasil
Esse cotidiano é dilacerado pela prisão e desparecimento de Rubens Paiva. As cenas de Eunice e da filha presas vão levar o público para os horrores das prisões da Ditadura Militar. Mesmo sem mostrar, de forma explícita, as torturas, o filme traz o medo, o nojo e o crime que envolviam os porões da Ditadura.
Na cena do chuveiro, Eunice tenta arrancar da pele as marcas desses porões e o público fica com elas. Dali em diante, tanto plateia como o filme parecem prender a respiração. O cinema fica num silêncio sufocante. A trilha sonora da primeira parte dá lugar a uma angústia.
Mães e pais não conseguem conter as lágrimas ao verem como Eunice vai tentando manter a família. Em determinada cena, Marcelo quebra a boneca da irmã que vai reclamar com a mãe, justamente no momento mais difícil daquela trajetória. A reação normal seria descontar nas crianças, entrar em desespero. Mas Eunice segue.
Há um toque sutil no roteiro e na direção: Eunice sabe da morte do marido. Mas essa cena não é explícita. Há um corte entre ela receber quem lhe vai dar a notícia e a reação do dela. O público sabe que ela recebeu a informação. Mas ela não é falada.
Rubens Paiva não tinha morrido "oficialmente", não há um atestado de óbito. Portanto, não há como materializar a morte
Na segunda parte, Eunice já é uma advogada renomada na luta pelos direitos humanos. E consegue, depois de longa luta, o atestado de óbito com o reconhecimento da morte violenta de Rubens Paiva. É quando as crianças menores, já adultas, conversam: "quando você enterrou o papai"?
Esse é o gancho para a terceira parte de Ainda Estou Aqui: a memória. A família está toda reunida. Eunice, com Alzheimer, parece distante, como numa realidade paralela, típica de quem sofre essa doença. Mas uma cena na TV devolve a atenção ao olhos dela. A memória tem caminhos desconhecidos e ali, memória, luta e resistência de cruzam.